Pensamentos

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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Inteligência Espiritual




Psicólogos, filósofos e teólogos identificam competência do homem para refletir sobre a existência para dar sentido à vida

Durante muito tempo, o mundo viveu uma verdadeira obsessão por testes para medir o quociente de inteligência (QI), baseados na compreensão e manipulação de símbolos matemáticos e lingüísticos. Nos anos 90, descobriu-se, no entanto, que QI elevado não era sinônimo de sucesso. Para se dar bem na vida, era preciso ter também inteligência emocional (QE), ou seja, ter autoconhecimento, autodisciplina, persistência e empatia.

Agora, o que psicólogos, filósofos e teólogos estão dizendo é que QI e QE podem trazer crescimento profissional e financeiro, mas, para ter paz interior e alegria, o ser humano precisa ter também inteligência espiritual. Precisa ter capacidade de encontrar um propósito para a própria vida e de lidar com os problemas existenciais que surgem em momentos de fracasso, de rompimentos e de dor.

"Do contrário, por que tantas pessoas inteligentes e sensíveis às necessidades dos outros sentem um vazio em suas vidas?", pergunta a psicóloga e filósofa americana Danah Zohar, autora do livro "Inteligência Espiritual", lançado no ano passado em vários países, inclusive no Brasil.

Formada na Universidade de Harvard e no MIT (Massachusetts Institute of Technology), Zohar descobriu a importância da inteligência espiritual durante seu trabalho como professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e como consultora de liderança estratégica para grandes empresas como Shell, Philip Morris e Volvo. "Eu estava falando com um grupo de executivos bem-sucedidos, e um deles, com cerca de 30 anos, disse que tinha um alto salário, uma família legal, mas sentia um buraco no estômago. E todos os outros fizeram um gesto com a cabeça, concordando com ele", contou Zohar.

O consultor de relações humanas e comunicação João Alberto Ianhez, que desde 1999 já deu cursos sobre inteligência espiritual para funcionários de cerca de 20 empresas brasileiras, diz que o materialismo e o egocentrismo do mundo moderno provocaram uma grande crise existencial. As pessoas passaram a buscar a felicidade em bens materiais e não conseguem mais encontrar um sentido para suas vidas. "Elas estão caminhando em busca do nada", comenta.

É em situações como essa que a inteligência espiritual, segundo os especialistas, tem um papel importante. "Ela nos permite encontrar um senso de propósito e direção", garante o rabino Nilton Bonder, que acaba de lançar o livro "Fronteiras da Inteligência, a Sabedoria da Espiritualidade".

O rabino ressalta, no entanto, que inteligência espiritual não tem nada a ver com religiosidade. Muitas pessoas religiosas, segundo ele, têm uma sabedoria espiritual baixíssima porque buscam na religião apenas certezas e "salvação"; não percebem a importância da dúvida e do questionamento. Bonder diz que a religião é apenas uma das linguagens que podem ser usadas para o desenvolvimento da espiritualidade.

Em seu livro, o rabino usa textos de várias religiões ocidentais e orientais para ajudar a despertar a reflexão ou, como diz ele, para ajudar a fazer "cair a ficha".

A inteligência espiritual, também chamada de QS (do inglês "spiritual quocient"), é a inteligência que leva o ser humano, segundo Zohar, a criar situações novas, a perceber, por exemplo, a necessidade de mudar de rumo, de investir mais num projeto ou de dedicar mais tempo à família. Enquanto o QI resolve primordialmente problemas de lógica e o QE nos ajuda a avaliar as situações e a reagir a elas de forma adequada, levando em conta os próprios sentimentos e os dos outros, o QS nos leva a indagar, de início, se queremos estar nessa situação, se o nosso trabalho, por exemplo, está nos dando a satisfação de que necessitamos ou se essa é a vida que queremos levar.

"Nós usamos a inteligência espiritual quando nos sentimos num impasse, quando enfrentamos as armadilhas de velhos hábitos ou quando temos problemas com doenças ou sofrimentos. O QS nos mostra que temos problemas existenciais e nos aponta os meios de resolvê-los", explica Zohar.

Provas científicas

Embora a expressão inteligência espiritual só tenha surgido na virada do século, a necessidade humana de encontrar um sentido mais amplo para a vida acompanha o homem desde o seu surgimento, afirma Zohar. A novidade, agora, é que alguns cientistas americanos estão começando a encontrar evidências de que o cérebro humano foi programado biologicamente para fazer perguntas como: "Quem sou?", "Por que nasci?", "O que torna a vida digna de ser vivida?".

No início dos anos 90, o neuropsicólogo americano Michael Persinger e, mais recentemente, em 1997, o neurologista Vilayanu Ramachandran, da Universidade da Califórnia, identificaram no cérebro humano um ponto chamado de "ponto Deus" ou "módulo Deus", que aciona a necessidade humana de buscar um sentido para a vida.

Esse centro espiritual localiza-se entre conexões neurais nos lobos temporais do cérebro. Escaneamentos realizados com topografia de emissão de posítrons (antipartícula do elétron) mostraram que essas áreas se iluminam toda vez que os pacientes discutem temas espirituais ou religiosos. Essa atividade do lobo temporal tem sido ligada há anos às visões místicas de epilépticos e de usuários do alucinógeno LSD. Mas a pesquisa de Ramachandran mostrou, pela primeira vez, que o centro espiritual também está ativo nas demais pessoas. O "ponto Deus" mostra que o cérebro evoluiu para fazer perguntas existenciais, para buscar sentidos e valores mais amplos, diz Zohar.

O médico terapeuta José Ângelo Gaiarça não integra o grupo de estudiosos da inteligência espiritual, mas reconhece a importância de o ser humano ter um propósito maior na vida. "Isso não é novidade, é uma idéia muito antiga", comenta. Gaiarça acha, no entanto, que o questionamento existencial por si só não basta para acabar com o vazio da vida moderna. O importante, segundo ele, é as pessoas começarem a perceber que não estão sozinhas no mundo, que fazem parte de um todo e que estão ligadas a tudo que as cerca. Ter espírito de cooperação é, na opinião dele, a forma mais elevada de inteligência espiritual.

Fonte: Folha de São Paulo

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